28/06/2012

APAE-DF e UnB certificam aprendizes com deficiência intelectual


Aprendizes do Projeto de Higienização de Livros têm vagas asseguradas no TSE e MEC. Parceria formou outras três turmas que também atuam em órgãos públicos federais.

Por: Francisco Brasileiro/ UnB Agência
Fotos: Mariana Costa/ UnB Agência

Esta quinta-feira, 28 de junho, não foi um dia comum para 15 aprendizes da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal (APAE-DF), que integram o projeto de Higienização, Conservação e Pequenos Reparos de Bens Culturais, em parceria com a Biblioteca Central da Universidade de Brasília (BCE). Foi um dia singular, marcado pela emoção, uma data na qual atestaram o quanto são capazes. Os alunos, todos com deficiência intelectual, foram contemplados com certificado que os habilita a realizar serviços de limpeza, conservação e pequenos reparos de livros e documentos. A colocação no mercado de trabalho está garantida para todos eles. A cerimônia ocorreu no Auditório da Reitoria. 

 “Depois que minha irmã entrou no projeto passei a não tratá-la mais como criança, mas como uma adulta de fato”, relata orgulhosa Rejane Cobra, irmã de Ana Paula Nicássio, uma das formandas que receberam o certificado, nesta tarde, das mãos do reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Júnior, e da presidente da APAE-DF, Diva Marinho. ..

“Não houve apenas um desenvolvimento profissional, mas no contexto social e familiar também”, disse Rejane. “É um aprendizado também para a família, porque a gente descobre que eles são capazes”. Ela contou que as mudanças também são observadas em casa, já que passam a ter mais iniciativas. “Agora ela está arrumando a cama sozinha, por exemplo”. A formação dos aprendizes acontece na Biblioteca Central da UnB, com orientação de professoras da associação e funcionários da BCE especializados em conservação e restauração de documentos. As aulas ocorrem no Arquivo Público do Distrito Federal e também na própria biblioteca.


 Os aprendizes que receberam a certificação nessa quinta-feira devem atender às demandas criadas por três novos contratos, um no Tribunal Superior Eleitoral, outro para o acervo histórico do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira e outro para a biblioteca do Ministério da Educação (MEC). “O projeto tem o cuidado de formar pessoas com um perfil conforme o mercado pede. Dessa forma é possível uma colocação profissional apoiada”, informa Marli Maciel, professora que atualmente coordena o projeto. O benefício desse projeto para os participantes é imensurável, avalia. “É uma guinada na vida dessas pessoas e de suas famílias, as quais, muitas vezes, não acreditavam nem consideravam possível esse caminho profissional.” 

EMOÇÃO - A cerimônia também emocionou o reitor, José Geraldo, que recordou trabalho por ele realizado há muitos anos na capacitação de pessoas com deficiência. “Já fui instrutor de aprendizes como vocês”, disse aos recém-formados. Segundo ele, era uma iniciativa, a partir da qual era possível fazer contratos com empresas para montagem de colares em bijuterias e miçangas. “Nós tínhamos o compromisso de receber insumos e entregar quantidades estabelecidas nos contratos”, explica. “Foi um tempo muito importante para mim, que ajudou a orientar o que seria o meu projeto de vida”. 

 Após a conclusão da qualificação profissional na UnB, que dura em média um ano, e a entrega dos certificados, os aprendizes formados podem ser contratados via acordo de prestação de serviços com os órgãos públicos. Depois de contratadas, as equipes trabalham com a supervisão de um apoiador designado pela APAE, que orienta os novos profissionais na realização do trabalho. “Eles são pessoas que precisam desse apoio para ingressar no mercado de trabalho”, explicou Idê Borges, primeira professora da APAE a coordenar o projeto. “O trabalho apoiado é uma modalidade de ocupação fundamental para as pessoas com deficiência”, complementou Diva Marinho durante a cerimônia. “Essa é uma das ações mais bem sucedidas da associação”. 

O projeto de Higienização, Conservação e Pequenos Reparos de Bens Culturais teve início em 2006 e, desde então, já certificou 26 aprendizes. Em dezembro de 2008, a Câmara dos Deputados realizou a primeira contratação de aprendizes formados por esse projeto. Oito já atuam na Câmara. Dois anos depois foi à vez de o Senado Federal contratar os serviços da APAE-DF, também com oito profissionais, exemplo seguido pelo Supremo Tribunal Federal, em janeiro de 2011, que contratou uma equipe de quatro profissionais, e pelo Itamaraty, em julho de 2011, com seis contratados.

COMPETÊNCIA - A trajetória do projeto de higienização já obteve reconhecimento. “Antes corríamos atrás, mas hoje os órgãos estão nos procurando para contratar”, comemora Marli Maciel, professora que atualmente coordena o projeto. No último dia 26 de junho, o resultado do trabalho da APAE-DF e da UnB foi reconhecido em documento oficial assinado pela diretora da Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho, do Senado Federal. O ofício atesta a capacidade técnica dos ex-alunos do projeto e a competência no cumprimento das exigências contratuais. 

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